quarta-feira, 2 de julho de 2008

A importância do treino Proprioceptivo

Primeiramente convém clarificar a definição de Propriocepção, que de acordo com Raposo, fisioterapeuta dedicado ao Golfe será " a informação que o cérebro recebe dos vários receptores mecânicos do corpo e que após a recepção prepara e envia uma resposta adequada ao estímulo", ou também poderá ser definida como o sentido que nos permite avaliar a posição do corpo e a sua relação com o espaço envolvente, ou pode ser ainda considerada como uma variação especializada da sensibilidade ao tato, que engloba a sensação de movimento articular (cinestesia) e de posição articular (PLAPLER et al., 1999).

Neste seguimento, vamos assim abordar os receptores proprioceptivos: o nome, a localização e as suas características.

Receptores articulares : Muitos receptores sensoriais são encontrados nas estruturas articulares e estes emitem vários potenciais de acção por segundo. Esses receptores são estimulados através da deformação que dependem directamente do estímulo gerado e localização desses receptores.

Receptores de Rufini: São chamados também de receptores estáticos e estão situados nas cápsulas articulares, nas camadas superficiais e, em maior quantidade, nas articulações proximais.

Esses receptores possuem baixo limiar mecânico, são de adaptação lenta e activados quando mobilizamos passivamente uma articulação em determinados ângulos de ativação, em torno de 15 a 30º, sendo característica de cada receptor e estando a articulação em repouso.

Corpúsculo de Pacini: São encontrados nas camadas profundas das articulações e coxins adiposos e são activados em movimentos articulares rápidos, considerados como receptores de aceleração. São numerosos nas articulações distais, inactivos em repouso.

Corpúsculo de Golgi: Estão situados nos ligamentos, sendo um mecânorreceptor dinâmico, assinalando essencialmente a posição e a direção dos movimentos, principalmente quando as articulações atingem graus extremos. ( SALGADO,A. S.I. - 1995).

Numa lesão, estes receptores são afectados, e por sua vez a resposta cerebral (eferente) ao movimento será por sua vez diminuída ou mesmo nula, o que poderá ditar em muitos casos a recidiva de lesões, em caso de inexistência de trabalho Proprioceptivo em em caso de este treino ter sido executado de forma inadequada. Assim, este treino visa preparar os segmentos corporais, através da "reprogramação" dos macanorecptores para as atividades da vida diária e desportiva, como: acelerar, desacelerar, subir, descer, saltar, pular e correr.

É importante ter a noção que o treino pode iniciar-se após a fase aguda da lesão, em que se aposta na diminuíção do edema e da dor através do tão citado RICE- compressão, elevação, gelo e repouso, e que este deve ser progressivo, com dificuldades acrescidas com o passar do tempo, ora de olhos fechados ora abertos, ora em terrenos planos ora irregulares, ora bipodal ora unipodal. Importante mesmo é conseguirmos reproduzir neste contexto, todas as situações que o atleta se vai deparar, quer no seu quotidiano quer, fundamentalmente na sua vida desportiva, de forma a evitar a recidiva de lesões.

Treino Proprioceptivo em Plataforma Multidireccional com Apoio bipodal


Treino proproceptivo em trampolim em apoio unipodal






Treino Proprioceptivo em plataforma em apoio bipodal




Treino Propreioceptivo em Plataforma em apoio unipodal









sexta-feira, 20 de junho de 2008

Hematoma Subungueal

Estamos a falar duma patologia bastante frequente em desportos de contacto, que se pode tornar bastante dolorosa e incapacitante mas cuja resolução é relativamente simples. O hematoma subungueal mais não é que um coágulo de sangue, provocado por um traumatismo, que se aloja sob a unha e sobre a derme. Muitas vezes, até à sua resolução, o atleta nem capacidade para calçar a chuteira/sapatilha possui. O tratamento passa por, após desinfecção, fazer dois/três furos na unha que permitam o extravasamento do coágulo. Após este procedimento o atleta fica praticamente sem dores e em pouco tempo regressa à competição.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Sindrome do Piriforme

Alguns tenistas queixam-se de dor no glúteo no movimento de brecada após as corridas laterais no fundo da quadra. Daí vem a dúvida e apreensão com a clássica pergunta nos consultórios: "será que eu tenho a mesma lesão que o Guga?".

A dor glútea pode ser provocada por diferentes causas, seja do próprio quadril ou uma dor irradiada (com origem em outro segmento corporal). O exame clínico deve contemplar a visão global, não se limitando a localizar o ponto da dor.

O músculo piriforme é um dos músculos da região glútea e vai do sacro até o fêmur. Ele participa da abdução e rotação externa do membro inferior (abrir e rodar para fora).

O nervo ciático passa pela região glútea por baixo ou entre as fibras do músculo piriforme e uma inflamação neste ponto pode provocar dor às vezes acompanhada de irradiação pela coxa, perna e pé ou mesmo subir para a região lombar, confundindo-se muitas vezes com dor provocada por hérnia de disco lombar. A essa dor provocada pelo pinçamento do nervo ciático pelo músculo piriforme (em formato de pêra) denominamos Síndrome do Piriforme.

Desequilíbrio da pelve (bacia), dos membros inferiores e fraqueza muscular podem levar a esse quadro doloroso. Não é necessário fazer exames complementares para o diagnóstico.

O tratamento vai além do alívio de dor e melhora da contratura. Procura-se corrigir as causas mecânicas, planear as actividades físicas que envolvem a musculatura glútea intercalando com relaxamento e acompanhar a evolução, pois casos crónicos podem evoluir com hipotrofia da musculatura. O planeamento físico e de prevenção de lesão são necessários e suficientes para livrá-lo deste incomodo.

É muito comum pessoas que correm sentirem dores na região do quadril ou glúteo, irradiando para a face posterior da coxa. Esse sintoma é geralmente associado a uma lesão do nervo ciático (ciatalgia). No entanto, o que ocorre muitas vezes é o que denominamos síndrome do músculo piriforme. O piriforme é um músculo da articulação do quadril localizado em baixo (mais profundamente) do glúteo, e uma das suas funções é manter a bacia estável quando nos apoiamos numa só perna durante a marcha e corrida, sendo dessa maneira muito solicitado a cada passo.
Ocorre que, após um treino intenso ou por fraqueza da musculatura, o piriforme pode sofrer uma contratura, referindo dor. Em outros casos essa contratura pode comprimir o nervo ciático, por estarem essas duas estruturas, músculo e nervo, em íntimo contacto. Assim, a síndrome do piriforme pode se manifestar como dor na região glútea ao pisar e apoiar-se num só pé, bem como irradiações para a face posterior da coxa. O diagnóstico deve ser feito pelo médico para se descartar a possibilidade de hérnias discais lombares e outras lesões do complexo articular do quadril. É importante manter a musculatura do quadril fortalecida, através de exercícios de musculação ou ginástica localizada, para se evitar a contratura do músculo piriforme e consequentemente desenvolver tal síndrome.

domingo, 27 de abril de 2008

Hidratação no Desporto


Um desportista tem necessidades hídricas especiais, fruto do aumento da transpiração durante a prática desportiva. As suas necessidades habituais situam-se acima dos 2L por dia até um máximo de 5L.

É de grande importância prevenir a desidratação, a fim de evitar a redução do rendimento físico, subidas acentuadas da temperatura corporal, dores de cabeça e, por vezes, mal-estar generalizado. De notar que em casos extremos, a desidratação pode levar à morte.

Durante a prática, 75% da energia consumida pelo músculo é transformada em calor – é crucial eliminá-lo através da transpiração. Sem água, a transpiração diminui e a temperatura corporal aumenta, conduzindo a um aumento do ritmo cardíaco.

Se o mecanismo de transpiração não for eficaz, a temperatura corporal aumenta cerca de 1º Celsius a cada 5 ou 10 minutos.

Além de prevenir o sobreaquecimento corporal, a água tem outra função de grande relevo no desportista – Reconstituir as reservas minerais.

Os desportistas requerem maiores quantidades minerais, uma vez que:

Os utilizam no metabolismo energético e na contracção muscular;

Têm grandes perdas através da sudação (por exemplo, podem perder 15 a 60 mg de cálcio).

É essencial hidratar:

Antes: antes do início da prática, de forma a estar com um nível de hidratação “óptimo”.

Durante: consoante o desporto em causa, há variações tanto na frequência como na quantidade ingerida.

Depois: a fim de restaurar o equilíbrio hídrico e as perdas minerais.

Hidratação no Desporto (2)


A generalidade das pessoas pensa que o acto de beber durante a actividade física serve apenas para saciar a sensação de sede, alguns sabem que bebem para não desidratar, mas quantos sabem os reais malefícios da desidratação?
Quantos sabem qual o fluido a ingerir? Quantos sabem a quantidade de fluidos que realmente necessitam?

Quando treinamos ou competimos suamos e esse défice de fluidos, se não for reposto, leva à diminuição do rendimento do atleta, e a uma fadiga precoce. Segundo Astrand e col., uma perda hídrica de 2% (que corresponde a cerca de 1,5L para um atleta de 75Kg) reduz a capacidade de trabalho em 20%.

O que muita gente não sabe, também, é que a desidratação diminui a habilidade do corpo regular o calor resultante do aumento da temperatura corporal e da elevada frequência cardíaca.
Diminui a capacidade mental, que pode ter implicações negativas no controlo motor, na concentração e capacidade de tomada de decisões (condições essenciais para a prática do Taekwondo)

Também está demonstrado que há maior incidência de patologias musculares (contracturas, roturas, distensões) e patologias tendinosas (tendinites e rupturas tendinosas) nos atletas desidratados.

Quando e Como devemos beber?

Agora que sabemos a importância que tem o consumo de fluidos precisamos de saber quando e como os devemos ingerir.

A melhor forma é começar a beber antes de começar o exercício adoptando um padrão de beber pequenos volumes, mas regulares, em vez de beber grandes volumes de uma só vez.

Muita gente comete o erro de ficar muito tempo sem beber, optando por beber grandes quantidades, de uma só vez, quando já sente muita sede. Isto é um procedimento errado.
Primeiro, porque infelizmente a sede não é um bom indicador da necessidade de fluidos, ou seja, quando chegamos à sensação de sede é sinal que já estamos a desidratar (por isso nunca devemos chegar a este estado).

Segundo, porque ingerir muita quantidade de fluidos leva a uma desconforto gástrico e, como se isso não fosse suficiente, o organismo não vai ter capacidade para absorver toda essa quantidade de fluido.

É preciso beber com regularidade. A maioria dos atletas tolera cerca de 200-300 ml em intervalos de 15 a 20 minutos, mas esta tolerância varia com o atleta e com a intensidade do exercício. Experimente beber não mais que 2 a 3 goles de cada vez.

Não esqueça de continuar a ingerir fluidos depois do exercício. Isto porque no final do exercício temos que repor os fluidos que vamos perdendo pelo suor contínuo e pelas perdas na urina.

Que Quantidade de Fluidos Devemos Ingerir?

As quantidades variam imenso entre os diversos atletas e os diversos exercícios.
São vários os factores que afectam a perda de fluidos:

Genética Intensidade do exercício Sexo Forma física Tamanho corporal Ambiente

Por isso é difícil generalizar uma quantidade específica. Mas existe uma forma simples de um atleta ter uma estimativa da quantidade de fluidos que precisa ingerir. Para isto basta:

Pesar-se antes e no fim do exercício.

Cada Kg de peso perdido corresponde a 1L de fluidos.

Depois adicionamos o peso de qualquer fluido ou comida consumida durante o exercício. Isto tudo vai-nos dar o total de suor perdido durante o exercício.

Dividindo o total de suor perdido pela duração do exercício providencia uma estimativa para a taxa de perda. É mais fácil com um exemplo.
Peso antes do exercício
70Kg
Peso no fim do exercício
68,5Kg

Volume de fluido consumido durante o treino (1L)
1Kg

Duração do exercício
2 Horas

Cálculos:
Défice de fluidos
70 – 68,5 = 1,5Kg
Perda total de suor
1,5Kg + 1Kg = 2,5Kg
Taxa de suor”
2,5Kg / 2h = 1,25L/hora

Ou seja, este atleta tem uma perda de 1,25L por hora de exercício. Mas este valor é afectado por vários factores (como mostrei mais em cima), por isso é necessário o atleta fazer estes cálculos, conhecer-se e hidratar-se convenientemente, consoante a intensidade de exercício.

Este tipo de cálculos é importantíssimo para se poder definir um plano específico que ajude o atleta a repor os líquidos perdidos.

O Risco de Beber em Demasia

Consumir fluidos em excesso pode levar a um desconforto gástrico. Apesar de não ser muito frequente, uma condição chamada hiponatremia (nível baixo de sódio no sangue) pode ocorrer, causando sintomas similares à desidratação e em casos extremos pode mesmo pôr a vida em risco. A hiponatremia pode acontecer em situações que o exercício se prolonga durante muito tempo (> 2 horas) e quando bebemos grandes quantidades de bebidas que contenham níveis reduzidos de sódio.

Consumir uma bebida que contenha níveis adequados de sódio (50-90 mmol) e igualando a quantidade ingerida do fluido com a quantidade perdida pelo suor previne o risco de hiponatremia.

Em exercícios de pouca/média duração o risco de hiponatremia é diminuto, contudo, bebidas com sódio são importantes uma vez que estas encorajam o consumo de fluidos porque estimulam o mecanismo da sede no organismo. O sódio também aumenta a absorção do fluido e a sua retenção no organismo. Reduzindo também as perdas na urina após o exercício. Isto significa que as bebidas com sódio são muito eficazes na prevenção da desidratação.

O que Beber?

Tipicamente os atletas só repõem aproximadamente 30-70% dos fluidos perdidos. Isto porque beber durante o exercício não é natural em muitos atletas. Então é necessário escolher uma bebida que desperte o interesse pelo consumo.

Estudos comprovam que as bebidas são melhor consumidas quando têm sabor, são frescas (a bebida fresca é mais agradável e é melhor absorvida pelo organismo) e contêm sódio. Quando bebidas com níveis baixos de sódio como a água, sumos, refrigerantes, são consumidos, o desejo de beber muitas vezes é “desligado” antes de o atleta ter consumido suficientes líquidos.

Tudo isto talvez torne as bebidas desportivas como a escolha ideal. E diversos estudos comprovam um balanço da reposição de fluidos mais benéfico com as bebidas desportivas que com a água.

A água é, também, uma opção viável durante o exercício. Contudo, a água não estimula o consumo de fluidos (na mesma extensão que as bebidas desportivas). A água também não contem os níveis de sódio que encontramos nas bebidas desportivas.

Mas a água, para os atletas que não toleram as bebidas desportivas ou em exercícios de duração não muito longa é uma boa opção.
Já as bebidas estimulantes, refrigerantes e sumos, geralmente contêm valores de Hidratos de Carbono (HC) superiores a 10% (o que é um valor muito elevado) e são pobres em sódio. Isto pode levar a uma diminuição do esvaziamento gástrico, dificultando a absorção, tornando estas bebidas, uma escolha menos acertada.

Bebidas contendo cafeína e álcool não são adequados na rehidratação porque, entre outros, promovem um aumento da diurese (acto de urinar).
Qual a Melhor Bebida Desportiva?

As bebidas desportivas são as mais indicadas para consumir durante e depois das sessões, permitindo uma reposição de fluidos e electrólitos perdidos, e simultaneamente, sendo uma fonte de HC (o nosso melhor combustível). O consumo de HC durante o exercício permite aos atletas treinarem durante mais tempo e a uma intensidade mais elevada. O “American College of Sports Medicine” sugere que os HC devem ser consumidos numa taxa de 30-60 gramas por hora. Isto equivale a 375-1000 ml numa bebida energética.

É importante referir que muitas destas bebidas desportivas são frequentemente chamados “isotônicos” por possuírem formulação semelhante ao plasma, o que facilita a absorção.

Escolha uma bebida desportiva que contenha entre 4-8% de HC, (o tipo de HC também é importante, pois o ideal é que seja uma fórmula balanceada que apresente glicose, frutose e não somente sacarose como é o caso de alguns) entre 10-20 mmol/L de sódio, seja barata, que venha numa embalagem prática, que saiba bem e não lhe cause desconforto. Não cometa o erro de experimentar uma bebida diferente no dia de uma prova uma vez que o organismo pode não tolerar. Experimente durante os treinos.

Para Finalizar

Bebendo com regularidade durante o exercício os atletas previnem lesões, evitam declínios na concentração e no nível de habilidade, previnem aumentos excessivos da frequência cardíaca e na temperatura corporal, aumentando, deste modo, a performance.

A ingestão de fluidos é uma prioridade chave durante os treinos e durante a competição.
Bibliografia:

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pubalgia

  • O termo "pub" refere-se ao Púbis, um dos ossos da bacia, enquanto "algia" significa dor. A dor originada no púbis tem diversas causas e uma delas é o treinamento intenso que provoca micro-traumatismos no local resultando em inflamação e dor. Esse processo de lesão pode acometer o osso, ligamentos e cartilagem e conseqüentemente os músculos desta região: os abdominais e adutores (parte interna da coxa). A dor no local (púbis) ou nas proximidades (coxa, e escroto) é o principal sintoma. Daí a importância de se fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças como, por exemplo, distensão muscular, infecção urinária e hérnia inguinal. Como a pelve (ossos da bacia) está intimamente ligada com a coluna vertebral e os membros inferiores, a falha no tratamento ou a gravidade da lesão pode desencadear outros tipos de dores e lesão como dor nas costas (lombalgia). O tratamento baseia-se no repouso, anti-inflamatórios e fisioterapia. Deve-se manter o condicionamento cárdio-respiratório com outras atividades de baixo impacto como exercícios na piscina. Normalmente os sintomas desaparecem em algumas semanas, mas alguns casos podem se prolongar por meses. Nestes casos, passa-se a pensar em tratamento cirúrgico. A prevenção envolve a programação dos treinamentos por especialistas (técnico, preparador físico e fisioterapeuta), dando atenção especial para o equilíbrio articular e muscular da pelve. Como a pubalgia geralmente começa como uma dor mal caracterizada na região da virilha ou das coxas, as pessoas vão tratando como simples dor muscular. Portanto, deve-se sempre lembrar a existência deste tipo de lesão para se fazer o diagnóstico correto e prevenir complicações e agravamento da lesão. A dor é um sinal de que algo não vai bem no corpo. Por isso, procure sempre orientação médica para fazer o diagnóstico precoce da sua lesão. Sobre Dr. Gilbert Bang Gilbert Sung Soo Bang começou a atuar com tenistas em 2002, mas já trabalhava com esportes desde 1994. O início deu-se através da clínica Movimentoa, que se localiza dentro do complexo esportivo Unisys Arena em São Paulo/SP. Bang trabalha tanto com juvenis quanto profissionais, atendendo-os diretamente ou como consultor médico (para atletas que não treinam em São Paulo). Além do atendimento na clínica, já participou de eventos como Aberto de São Paulo e Copa Davis 2004 (Venezuela), mas o trabalho principal é acompanhar os atletas durante os treinamentos e torneios ao lado dos técnicos – acompanho as equipes de treinamento das academias Unisys Arena e Eche

  • Sofrimento que afecta a região da sínfese púbica e inserções tendinosas vizinhas.
FREQUÊNCIA - é claramente superior nos homens em relação às mulheres, é muito habitual nos praticantes de futebol.
Embora o número de mulheres que se dedica à prática de futebol seja consideravelmente menor, as diferenças anatómicas do canal inguinal e as menores exigências no treino, além da melhor adaptação da bacia feminina à violência biomecânica são a principal justificação.
Não é exclusiva dos futebolistas : aparece também nos praticantes de ragueby, ténis, esgrima , andebol e outros.

Basicamente são três as estruturas interessadas directamente no sindrome pubálgico : a sinfese púbica, os musculos aductores da coxa e o complexo do canal inguinal. Em conjunto com os gestos técnicos repetitivos, actuam uma série de factores intrinsecos e extrinsecos que potenciam a sua acção nefasta sobre a bacia. Poderemos assim considerar dois grandes grupos de factores favorecedores.

Os que se inserem superiormente na sinfise púbica são: Os grandes rectos, os musculos transversos e os grandes obliquos.
Os que se inserem inferiormente são: O grupo de aductores da coxa, o aductor médio o aductor menor o recto interno e o pectineo.


No grupo dos factores intrinsecos, que estão relacionados com o próprio atleta (morfótipo), normalmente são atletas brevilineos , jovens, com hipertrofia muscular, com encurtamento e menor flexibilidade dos músculos dos membros inferiores, particularmente dos aductores, em contraste com uma musculatura abdominal significativamente insuficiente. Podemos encontrar situações que vão exigir grandes esforços da sinfise púbica, agravadas pelos gestos repetitivos a que a prática desportiva obriga. Assim devemos procurar causas de agravamento como sejam :
Anomalia congénitas ou adquiridas da parede abdominal sobretudo nas suas localizações mais inferiores, tal como anomalias do canal inguinal.
Hérnias congénitas ou adquiridas, nalguns casos devido ao estiramento das estruturas anatómicas do canal inguinal, efeito provocado por forças de tração num ponto de menor resistência e originando verdadeiros estados pré-herniários.
As dismetrias dos membros inferiores,que são desigualdades no comprimento e são situações muito frequentes embora inaparentes, geram instabilidade pélvica e levam a perturbações estáticas e dinâmicas daqueles.

Os factores extrinsecos, estão directamente relacionados com a prática desportiva, e dependem de uma série de factores tais como :
Factores ecologicos realtivos à qualidade dos solos e calçado usado (pisos duros e uso de calçado com pouca absorção de choques).
Tipo de desporto praticado que pode ser mais ou menos agressivo para a região púbica (futebol, esgrima, ténis, rugby).Excessos quantitativos.Erros na coordenação e progressão do treino.
Sendo a pubalgia uma lesão tão incapacitante, devemos preveni-la e para isso é necessário uma estreita colaboração entre o ATLETA, o TREINADOR e os elementos da equipa multi disciplinar.
A sua prevenção passa por um treino programado e progressivo e devem ser prevenidos e tratados todos os factores predisponentes.
A musculação abdominal cuidada e os alongamentos dos aductores e dos ísquio-tibiais, devem ser feitos em todos os treinos.Pretende-se assim que o atleta tenha um adequado equilibrio dinâmico da bacia.
Algumas normas terapeuticas :
- Quando perante uma pubalgia o atleta deverá ter um repouso desportivo completo e suficientemente prolongado ( entre 40 a 90 dias ) para que a cura de qualquer elemento tendino aponevrótico atingido seja total.
- Os anti-inflamatórios devem ser administrados preferencialmente os não esteroides em doses moderadas e decrescentes durante 20 a 25 dias, para que sejam eficazes ao nivel das estruturas tendino-aponevróticas lesadas.
- O fortalecimento e a tonificação muscular deve ser feita antes do incio dos treinos.
- O retorno à actividade desportiva deve ser progressivo e programado.

A cirúrgia está reservada, para os casos decorrentes de sofrimento das estruturas tendino-aponevrótivas, desde que não haja evolução favorável após três meses de tratamento médico, bem instituído e desenvolvido.
O tratamento cirúrgico, tem indicação formal e logo desde o início, para os casos em que a pubalgia decorre de anomalias do canal inguinal.
  • A pubalgia é uma lesão que resulta de tensões e microtraumatismos das inserções dos tendões dos músculos que partem do osso púbico. Este tipo de lesão pode ter duas origens:


A repetição excessiva do mesmo gesto desportivo (no seu caso, a corrida), com uma técnica nem sempre correcta.
Desequilíbrios musculares (músculos abdominais oblíquos e glúteos fracos e músculos posteriores da coxa, adutores, recto abdominal e extensores da coluna, muito fortes e encurtados), associados a alterações posturais (por exemplo, aumento da lordose lombar ou um membro inferior mais curto que o outro). A pubalgia pode ser prevenida com um treino específico de força, flexibilidade e educação postural, orientado por um fisioterapeuta desportivo ou um professor de educação física habituado a lidar com este tipo de lesão.

Fontes:

http://www.millenniumbcp.pt/

www.alternet.pt/olympica

http://pt.shvoong.com/humanities/1662330-que-é-pubalgia/

Lesão osteocondral do astrágalo

Desta vez vamos postar sobre a lesão osteocondral do astrágalo. Continua sendo um grande desafio para o ortopedista que lida com os pés, o podiatra e, de uma forma geral, para todos os ortopedistas que lidam com traumas e danos à cartilagem, principalmente as ditas sinoviais. As condutas continuam bastante controversas e poucos podem afirmar o "eu trato correto desta forma" com tanta certeza. A cartilagem é um tecido de pequena espessura, mas com imensa capacidade de absorção de impacto, proteção do osso subcondral e facilitação do movimento articular. Sua capacidade de regeneração vai no sentido inverso e praticamente inexiste. A composição da cartilagem hialina consiste em 70% de água, 15% de colágeno do tipo 2 e 15% de proteoglicanos, proteínas não-colágenas, lipídeos. Os condrócitos são responsáveis pela formatação desta matriz. Suas lesões são, sem a menor dúvida, um dos nossos grandes desafios deste século.Com o avanço das técnicas de imagem, muitas daquelas lesões ditas idiopáticas no passado, na verdade hoje estão sendo destrinchadas e novos diagnóstico e modelos de tratamento vão surgindo. Num futuro utilização de células mesenquimais indiferenciadas, transplante de condrócitos, utilização de periósteo autólogo, drogas condroprotetoras estará evoluindo a tal ponto de atrasarmos ao máximo as indicações e os altos custos, sociais e financeiros, das artroplastias ou artrodeses. No caso do tornozelo e pé isto se torna ainda mais importante, pois as artroplastias, p. ex., não atingiram o vértice ou platô de aprendizado técnico disseminado como ocorre nos ombros, joelhos e quadris.
Lesão Osteocondral de Astrágalo ( OLT )

Histórico:
Descrição inicial por Kornig em 1888.
Definição:
OLT de “Osteochondral Lesion of the Talus” é o termo mais recente e que pode ser dividido em lesões agudas e crônicas. Consiste na separação de um pedaço de cartilagem e, em tamanhos variados, de osso subcondral do talus. Osteocondrite dissecante somente é utilizado para aquela condição específica de necrose avascular do talus, na qual existe destacamento de osso subcondral e da cartilagem acima. Houve um avanço importante com advento da imagenologia por TC e RM desses casos, principalmente no que diz a localização, dimensão e profundidade real da patologia. Benefícios foram trazidos também pela melhoria técnica e da “curva de aprendizado” da artroscopia de tornozelo. De qualquer forma, existem muito poucos trabalhos de longo seguimento para definir qual o melhor tratamento para cada tipo de lesão, principalmente nas lesões de tipo três e acima de BH.
Incidência e Apresentação Clínica:
Representam 1 % de todas as fraturas do talus;
São bilaterais em até 10% dos casos e as lesões mediais são mais comuns;
Idade média de 25 anos com leve predomínio do sexo masculino;
Falha diagnóstica inicial em até 75 % dos casos. Explica-se por raios-x de baixa qualidade e falta de raciocínio clínico;
Acompanham 2 a 6 % de todas as torções de tornozelo;

Entorse de tornozelo no tênis

Sintomatologia:
A persistência de dor em tornozelo, pós torção saída de sua fase aguda, deve-se suspeitar da lesão. Pode-se associar ao valgismo de retropé e tornozelo ou instabilidades crônicas no pé cavo varo. Sistêmicamente os distúrbios endócrinos ou as anormalidades genéticas podem ter seu papel nas lesões mais insidiosas. Dor Antero-lateral é a queixa mais importante, mas pode ter um caráter vago e impreciso. Existe piora da dor com dorsiflexão ou inversão. As lesões mais sintomáticas geralmente são as laterais. As mediais são de localização mais posterior e são profundas. As de localização central são bastante raras.

Astrágalo - visão superior

Etiologia e Mecanismo de Lesão
Berndt and Harty, em 1959, demonstraram, através de estudos em cadáveres, que o mecanismo de lesão é a inversão forçada com diversos graus de dorsiflexão do tornozelo nas lesões laterais. Nas lesões mediais o pé geralmente se encontra em flexão plantar, quando força causando inversão de tornozelo é aplicada.
Diagnóstico Diferencial
Sindromes de Pinçamentos do Tornozelo, Dor Complexa Regional, Artrose, Instabilidade Lateral de Tornozelo (1) (2) (3) (4), Infecção, Coalizão Tarsal (1) (2), Disfunção Subtalar, Subluxação Peroneal ou Lesões de Fibulares.
Exames Complementares
Raios X – AP, mortalha, perfil. Algum grau de melhora na visualização pode ser conseguido com flexão simples de tornozelo;
Tomografia Computadorizada (TC): primeira opção em preparo pré-op;
RM – Auxílio a TC quando persistir a dúvida diagnóstica;
Classificação

Estágio 1 tomográfico
Radiologia Simples - Berndt and Harty
TIPO(ESTÁGIO)1: compressão de osso subcondral;
TIPO(ESTÁGIO)2: destacamento parcial de fragmento;
TIPO(ESTÁGIO)3: destacamento completo e sem desvio;
TIPO(ESTÁGIO)4: destacamento completo e com desvio, podendo haver corpo livre intrarticular.
Com o advento da Ressonância, melhoras técnicas da TC e da Artroscopia, novas classificações para as lesões foram sugeridas. Lesões císticas foram melhor demonstradas por TC e RM. A classificação de BH ainda guia boa parte do tratamento, mas sua associação com exames de TC ou RM melhora o tratamento e prognósticos destas lesões. Hoje existe uma quase unanimidade na escolha da artroscopia como melhor opção cirúrgica.

Estágio 2 A tomográfico
CLASSIFICAÇÃO ARTROSCÓPICA
A – Domo talar intacto, mas macio;
B – Superfície talar áspera;
C – Fibrilações visíveis na superfície;
D – “flap”condral presente;
E – fragmento solto e não desviado;
F – fragmento desviado.
CLASSIFICAÇÃO TOMOGRÁFICA ( Ferkel e Scaglione, 1990 )
I – Lesão cística sem contato articular;
II A – Lesão cística com contato articular;
II B – Lesão aberta com fragmento não desviado;
III – Fragmento não desviado;
IV – Fragmento deviado.

Lesão Estágio 2A por RM
CLASSIFICAÇÃO POR RM
Estágio 1 – edema ósseo
Estágio 2 A – cisto subcondral
Estágio 2 – separação incompleta do fragmento;
Estágio 3 – fragmento no leito, com líquido sinovial em volta;
Estágio 4 – fragmento desviado.

Tratamento
Lesões assintomáticas: nenhum tratamento
Lesões sintomáticas:
Estágio 1: conservador com bloqueio de atividades físicas por vários meses. Eu indico seis meses. A literatura é controversa, mas um período de 3-6 meses é aceitável.
Estágio 2: restrição de atividade + imobilização com órtese por 6 semanas. Manteve-se sintomático: cirúrgico; De uma maneira geral, 90 % dos casos são resolvidos satisfatoriamente de forma conservadora.


Estágio 2B tomográfico
Estágio 3 : indicação cirúrgica. Artroscopia ou artrotomia, principalmente nas lesões mediais Podem ser feitas microfraturas, perfurações, curetagens com debridamento nas lesões menores (<1,5 cm 2 ).
Estágio 4 - a preferência é por tratamento cirúrgico. Os grandes fragmentos podem ser recolocados em seu leito original e fixados com parafusos absorvíveis(BIOFIX PINS), cola de fibrina ou outros. Por via artroscópica or artrotomia com ou sem osteotomia . Fragmentos pequenos devem ser removidos.
Nas lesões crônicas está indicada curetagem e perfurações do ossso subcondral para estímulo e formação de fibrocartilagem. Fazem parte das chamadas técnicas reparadoras. O tecido formado é uma fibrocartilagem desorganizada, óbvio sem as mesmas características da cartilagem original. Transplante de condrócitos, periósteo autólogo, mosaicoplastia podem ser usados. São as chamadas técnicas restauradoras e são “moda” na ortopedia atual. Nas lesões menores atualmente está indicada a mosaicolplastia e a “ACI” ( Autologus Chondrocytes Implantation ) nas maiores. Paciente ideal para transplante de condrócitos deve ter entre 15 e 55 anos de idade, sem mal alinhamento, artrose ou instabilidade articular. Como visto, boa parte das lesões podem ser abordadas por via artroscópica, mas acesso aberto por osteotomia está indicado, em qualquer dificuldade de técnica, principalmente para àquelas lesões mediais. Alguns autores relatam presença de artrose, pós-osteotomias, em até 50% dos casos operados.

Estágio 3 tomográfico
Pós-operatório:
Sem osteotomia: carga e mobilização imediata;
Com osteotomia: imobilização e carga após consolidação. Geralmente após 6 semanas;
Fragmentos maiores e que foram reposicionados em seu leito original( aqueles maiores que 1,5 cm 2 ): carga só é permitida após 3 meses de pós-operatório.
Resultados e discussão:

Estágio 4 tomográfico
Há consolidação de fragmentos no pós operatório em apenas em 50 % dos casos, mas com melhora clínica de dor; Os estágios dois e três evoluem melhor no pós operatório, em relação ao estágio 4 ; Os melhores resultados são obtidos com a remoção precoce dos pequenos fragmentos e atraso na conduta operatória pode resultar em artrose pós-traumática; De 20 a 50% das lesões evoluem com artrose pós-traumática e 75% destes casos são relacionadas aos estágios 3 e 4 de lesão; Os resultados vão se deteriorando ao longo do tempo, variando de 85% de bons resultados imediatos para 60% bons resultados clínicos de retorno às atividades e artrose em quase 90% dos casos, com após 9 anos de reavaliação. Avaliação de mais tempo das novas técnicas de tratamento de lesões da cartilagem são necessárias.
Futuro
MACI ( “Matrix autologous chondrocytre Implantation”) ; CACI ( “Collagen-covered autologous chondrocyte implantation”); AAP/PRP ( “Arthroscopic allograft/autograft with platelet-rich plasma”); Hialograft; Neocartilagem; Celulas troncos. Estas são as técnicas que nortearam as regras para os ortopedistas no século 21 que insistem em lidar com o desafio dos danos às cartilagens. Num futuro próximo escreverei sobre alguma delas.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Entrevista de Mário André(enf do SCP)

No seguimento do post anterior, apresentamos uma entrevista dada ao Jornal O Mirante a 7 de Março. Uma entrevista em que o mesmo, com experiência de cerca de 20 anos no mundo do Futebol, aborda as dificuldades ultrapassadas, bem como o dia-a-dia no Sporting Clube de Portugal.
Mário André é um confidente dos atletas que diz tratar quase como filhos O enfermeiro de Alpiarça trata da saúde aos jogadores do Sporting

Está há cerca de 20 anos no Sporting como enfermeiro, clube de que se tornou sócio pelo carinho com que foi recebido. Mário André, natural de Alpiarça, diz que o segredo para a ligação de tanto tempo ao clube tem a ver com a sua maneira de ser: não se meter em assuntos para os quais não é chamado. Tratou centenas de atletas num consultório na sua terra natal, onde às vezes o que ganhava nem dava para pagar as despesas.

Como é que se torna enfermeiro? Já tinha essa intenção em criança?

Queria entrar na Escola Agrária. Quando fui para me inscrever faltava-me média a matemática. Nessa altura vejo um folheto da Escola de Enfermagem de Santarém, que ia abrir pela primeira vez um curso geral de enfermagem. Tratei logo dos papéis e entrei. Nem tinha a noção do que era o curso que comecei em 1974 e acabei em 1977. Comecei a trabalhar nos Hospital de Santarém onde estive cinco anos. Saí no ano em que se faz a transferência para as novas instalações. Fui depois para o Centro de Saúde de Alpiarça e mais tarde aparece o trabalho no futebol. Como as minhas saídas eram constantes fui para o Centro de Saúde de Santarém que tinha mais pessoal e onde podia faltar.

Quando é que começa a exercer as funções de enfermeiro no futebol?

Um dia o treinador Mário Lázaro convidou-me para o Águias de Alpiarça. Criou-se então um departamento médico que incluía o médico Mário Silva, em 1982/83. Instalou-se alguma aparelhagem que ainda hoje está a ser usada. Abriu então um curso para enfermeiros no Sporting, ministrado por Manuel Marques. Quando me fui inscrever já não tinha vaga e foi o Manuel Miranda do Céu, que era director do ciclismo do Águias e tinha boas relações com o Sporting, que conseguiu meter-me no curso.

É sportinguista?

Sou. Fiz-me sócio em 1986, quando fiz o curso de enfermeiro no clube. Não foi por imposição, mas a forma de estar das pessoas do clube e a maneira como fui acarinhado não me deixava outra alternativa.

Não começou logo a trabalhar no Sporting.

Na altura ofereceram-me um part-time, mas não aceitei porque o vencimento que me davam não compensava. Ainda passei pelo União de Almeirim que estava na 2ª divisão. A saída de Alpiarça não foi pacífica. Passados dois anos fui chamado para o Sporting. O meu horário de trabalho era das 17h00 às 20h00 todos os dias. Durante cerca de cinco anos não ganhei um tostão. Ou melhor, o que ganhava não dava para as despesas.

Para se ser enfermeiro de uma equipa de topo é preciso ter bastantes conhecimentos…

A Internet veio facilitar muito a nossa actualização em termos de conhecimentos. Só temos que aplicar a experiência para fazer a triagem das informações importantes. Passo algum tempo a pesquisar quais são as novas tecnologias e outras técnicas que estão a ser usadas.

A quem é que deve o que hoje sabe?

Ao Sporting, porque se não tenho lá entrado não teria acesso a tanta coisa nem tantos conhecimentos com tenho hoje.

Mas os primeiros tempos não devem ter sido fáceis…

A enfermagem no desporto não era compreendida. Era considerada uma actividade menor. As pessoas perguntavam o que é que fazia um enfermeiro no futebol. Hoje já se tem consciência que onde existe uma pessoa existe a necessidade de cuidar. E essa é a base da nossa actividade. Nos primórdios o massagista era o barbeiro ou o coveiro. Havia uma ideia depreciativa do técnico de saúde que trabalhava nesta área.

Não começou logo na equipa principal?

Comecei o percurso nos escalões jovens de futebol do Sporting além de outras modalidades. A subida foi a pulso, tive que mostrar disponibilidade e vontade. Nunca saía do clube às 20h00 quando terminava o meu horário. Chegava a casa à meia-noite porque ia ajudar nas modalidades jovens que começavam a treinar após as oito da noite. Teve que haver muita entrega, dedicação e actualizações constantes porque o meu trabalho estava sempre a ser avaliado.

Quando vai com a equipa para o estrangeiro aproveita para passear?

As pessoas pensam que a minha vida é um deslumbramento. Mas quando vou com a equipa levo os aparelhos, monto a sala de tratamentos e passo o tempo com os jogadores. Às vezes dou um passeio pelo jardim do hotel, nada mais, porque os jogadores precisam de mim por perto. Praticamente só fico a conhecer os aeroportos e os hotéis.

Tem cuidados especiais com as mãos?

Não, porque hoje trabalha-se muito com as máquinas, com a tecnologia. Mas recordo que o grande mestre da enfermagem desportiva, Manuel Marques, tinha um extremo cuidado com as mãos. Chamavam-lhe o massagista das mãos de ouro. Não cumprimentava quase ninguém, sempre que acabava o serviço punha luvas para proteger as mãos porque considerava que estas eram o segredo da actividade.

As pessoas vão bater-lhe à porta para lhe pedir conselhos ou tratamentos?

Durante alguns anos tive um gabinete aberto em Alpiarça que tive de o fechar recentemente por falta de disponibilidade. Chegava a trabalhar até às duas da manhã. Neste momento estou a fazer um curso na Escola de Enfermagem de Santarém para poder ser passar de bacharel a licenciado.

Quem é que tratava nesse seu consultório?

Principalmente desportistas que tinham lesões que se arrastavam no tempo. Para aquilo que trabalhava ganhei muito pouco, mas não me chateio com isso. Cheguei a não levar dinheiro quando sabia que as pessoas eram pobres. Não consigo ser um bom comerciante. Em vez de me preocupar apenas com as lesões pensava também na vertente social, no facto da pessoa poder ou não pagar. As pessoas agradeciam oferecendo-me por exemplo fruta da sua horta ou uma garrafa de vinho.
Como é que as pessoas de Alpiarça o tratam?

Por meu menino, por Mário Rato, alcunha por que era conhecido o meu pai e que herdei.
Ser bem disposto, divertido, faz parte do seu trabalho?

Se tiver uma atitude negativista na vida isso é ampliado no desporto de uma forma tremenda. As pessoas que trabalham no desporto têm que ser alegres, com espírito de conquista.

Já foi convidado para a política?

Participei activamente no 25 de Abril, o meu pai esteve preso pela PIDE. Ele foi sempre um democrata, não era político, era contra o sistema. Fui convidado para integrar listas da CDU em Alpiarça, dei o meu apoio e nunca tive nenhuma acção de relevo. Não milito em nenhum partido, sou um socialista não no aspecto partidário mas sim ideológico. Defendo que desenvolvimento económico não pode ser feito à custa das desigualdades sociais.

Como é que vê o estado actual do seu concelho?

Alpiarça deu um salto. Reconheço que se desenvolveu. Mas gostaria que houvesse uma oposição mais consistente.