Um desportista tem necessidades hídricas especiais, fruto do aumento da transpiração durante a prática desportiva. As suas necessidades habituais situam-se acima dos 2L por dia até um máximo de 5L.
É de grande importância prevenir a desidratação, a fim de evitar a redução do rendimento físico, subidas acentuadas da temperatura corporal, dores de cabeça e, por vezes, mal-estar generalizado. De notar que em casos extremos, a desidratação pode levar à morte.
Durante a prática, 75% da energia consumida pelo músculo é transformada em calor – é crucial eliminá-lo através da transpiração. Sem água, a transpiração diminui e a temperatura corporal aumenta, conduzindo a um aumento do ritmo cardíaco.
Se o mecanismo de transpiração não for eficaz, a temperatura corporal aumenta cerca de 1º Celsius a cada 5 ou 10 minutos.
Além de prevenir o sobreaquecimento corporal, a água tem outra função de grande relevo no desportista – Reconstituir as reservas minerais.
Os desportistas requerem maiores quantidades minerais, uma vez que:
Os utilizam no metabolismo energético e na contracção muscular;
Têm grandes perdas através da sudação (por exemplo, podem perder 15 a 60 mg de cálcio).
É essencial hidratar:
Antes: antes do início da prática, de forma a estar com um nível de hidratação “óptimo”.
Durante: consoante o desporto em causa, há variações tanto na frequência como na quantidade ingerida.
Depois: a fim de restaurar o equilíbrio hídrico e as perdas minerais.
Hidratação no Desporto (2)
A generalidade das pessoas pensa que o acto de beber durante a actividade física serve apenas para saciar a sensação de sede, alguns sabem que bebem para não desidratar, mas quantos sabem os reais malefícios da desidratação?
Quantos sabem qual o fluido a ingerir? Quantos sabem a quantidade de fluidos que realmente necessitam?
Quando treinamos ou competimos suamos e esse défice de fluidos, se não for reposto, leva à diminuição do rendimento do atleta, e a uma fadiga precoce. Segundo Astrand e col., uma perda hídrica de 2% (que corresponde a cerca de 1,5L para um atleta de 75Kg) reduz a capacidade de trabalho em 20%.
O que muita gente não sabe, também, é que a desidratação diminui a habilidade do corpo regular o calor resultante do aumento da temperatura corporal e da elevada frequência cardíaca.
Diminui a capacidade mental, que pode ter implicações negativas no controlo motor, na concentração e capacidade de tomada de decisões (condições essenciais para a prática do Taekwondo)
Também está demonstrado que há maior incidência de patologias musculares (contracturas, roturas, distensões) e patologias tendinosas (tendinites e rupturas tendinosas) nos atletas desidratados.
Quando e Como devemos beber?
Agora que sabemos a importância que tem o consumo de fluidos precisamos de saber quando e como os devemos ingerir.
A melhor forma é começar a beber antes de começar o exercício adoptando um padrão de beber pequenos volumes, mas regulares, em vez de beber grandes volumes de uma só vez.
Muita gente comete o erro de ficar muito tempo sem beber, optando por beber grandes quantidades, de uma só vez, quando já sente muita sede. Isto é um procedimento errado.
Primeiro, porque infelizmente a sede não é um bom indicador da necessidade de fluidos, ou seja, quando chegamos à sensação de sede é sinal que já estamos a desidratar (por isso nunca devemos chegar a este estado).
Segundo, porque ingerir muita quantidade de fluidos leva a uma desconforto gástrico e, como se isso não fosse suficiente, o organismo não vai ter capacidade para absorver toda essa quantidade de fluido.
É preciso beber com regularidade. A maioria dos atletas tolera cerca de 200-300 ml em intervalos de 15 a 20 minutos, mas esta tolerância varia com o atleta e com a intensidade do exercício. Experimente beber não mais que 2 a 3 goles de cada vez.
Não esqueça de continuar a ingerir fluidos depois do exercício. Isto porque no final do exercício temos que repor os fluidos que vamos perdendo pelo suor contínuo e pelas perdas na urina.
Que Quantidade de Fluidos Devemos Ingerir?
As quantidades variam imenso entre os diversos atletas e os diversos exercícios.
São vários os factores que afectam a perda de fluidos:
Genética Intensidade do exercício Sexo Forma física Tamanho corporal Ambiente
Por isso é difícil generalizar uma quantidade específica. Mas existe uma forma simples de um atleta ter uma estimativa da quantidade de fluidos que precisa ingerir. Para isto basta:
Pesar-se antes e no fim do exercício.
Cada Kg de peso perdido corresponde a 1L de fluidos.
Depois adicionamos o peso de qualquer fluido ou comida consumida durante o exercício. Isto tudo vai-nos dar o total de suor perdido durante o exercício.
Dividindo o total de suor perdido pela duração do exercício providencia uma estimativa para a taxa de perda. É mais fácil com um exemplo.
Peso antes do exercício
70Kg
Peso no fim do exercício
68,5Kg
Volume de fluido consumido durante o treino (1L)
1Kg
Duração do exercício
2 Horas
Cálculos:
Défice de fluidos
70 – 68,5 = 1,5Kg
Perda total de suor
1,5Kg + 1Kg = 2,5Kg
“
Taxa de suor”
2,5Kg / 2h = 1,25L/hora
Ou seja, este atleta tem uma perda de 1,25L por hora de exercício. Mas este valor é afectado por vários factores (como mostrei mais em cima), por isso é necessário o atleta fazer estes cálculos, conhecer-se e hidratar-se convenientemente, consoante a intensidade de exercício.
Este tipo de cálculos é importantíssimo para se poder definir um plano específico que ajude o atleta a repor os líquidos perdidos.
O Risco de Beber em Demasia
Consumir fluidos em excesso pode levar a um desconforto gástrico. Apesar de não ser muito frequente, uma condição chamada hiponatremia (nível baixo de sódio no sangue) pode ocorrer, causando sintomas similares à desidratação e em casos extremos pode mesmo pôr a vida em risco. A hiponatremia pode acontecer em situações que o exercício se prolonga durante muito tempo (> 2 horas) e quando bebemos grandes quantidades de bebidas que contenham níveis reduzidos de sódio.
Consumir uma bebida que contenha níveis adequados de sódio (50-90 mmol) e igualando a quantidade ingerida do fluido com a quantidade perdida pelo suor previne o risco de hiponatremia.
Em exercícios de pouca/média duração o risco de hiponatremia é diminuto, contudo, bebidas com sódio são importantes uma vez que estas encorajam o consumo de fluidos porque estimulam o mecanismo da sede no organismo. O sódio também aumenta a absorção do fluido e a sua retenção no organismo. Reduzindo também as perdas na urina após o exercício. Isto significa que as bebidas com sódio são muito eficazes na prevenção da desidratação.
O que Beber?
Tipicamente os atletas só repõem aproximadamente 30-70% dos fluidos perdidos. Isto porque beber durante o exercício não é natural em muitos atletas. Então é necessário escolher uma bebida que desperte o interesse pelo consumo.
Estudos comprovam que as bebidas são melhor consumidas quando têm sabor, são frescas (a bebida fresca é mais agradável e é melhor absorvida pelo organismo) e contêm sódio. Quando bebidas com níveis baixos de sódio como a água, sumos, refrigerantes, são consumidos, o desejo de beber muitas vezes é “desligado” antes de o atleta ter consumido suficientes líquidos.
Tudo isto talvez torne as bebidas desportivas como a escolha ideal. E diversos estudos comprovam um balanço da reposição de fluidos mais benéfico com as bebidas desportivas que com a água.
A água é, também, uma opção viável durante o exercício. Contudo, a água não estimula o consumo de fluidos (na mesma extensão que as bebidas desportivas). A água também não contem os níveis de sódio que encontramos nas bebidas desportivas.
Mas a água, para os atletas que não toleram as bebidas desportivas ou em exercícios de duração não muito longa é uma boa opção.
Já as bebidas estimulantes, refrigerantes e sumos, geralmente contêm valores de Hidratos de Carbono (HC) superiores a 10% (o que é um valor muito elevado) e são pobres em sódio. Isto pode levar a uma diminuição do esvaziamento gástrico, dificultando a absorção, tornando estas bebidas, uma escolha menos acertada.
Bebidas contendo cafeína e álcool não são adequados na rehidratação porque, entre outros, promovem um aumento da diurese (acto de urinar).
Qual a Melhor Bebida Desportiva?
As bebidas desportivas são as mais indicadas para consumir durante e depois das sessões, permitindo uma reposição de fluidos e electrólitos perdidos, e simultaneamente, sendo uma fonte de HC (o nosso melhor combustível). O consumo de HC durante o exercício permite aos atletas treinarem durante mais tempo e a uma intensidade mais elevada. O “American College of Sports Medicine” sugere que os HC devem ser consumidos numa taxa de 30-60 gramas por hora. Isto equivale a 375-1000 ml numa bebida energética.
É importante referir que muitas destas bebidas desportivas são frequentemente chamados “isotônicos” por possuírem formulação semelhante ao plasma, o que facilita a absorção.
Escolha uma bebida desportiva que contenha entre 4-8% de HC, (o tipo de HC também é importante, pois o ideal é que seja uma fórmula balanceada que apresente glicose, frutose e não somente sacarose como é o caso de alguns) entre 10-20 mmol/L de sódio, seja barata, que venha numa embalagem prática, que saiba bem e não lhe cause desconforto. Não cometa o erro de experimentar uma bebida diferente no dia de uma prova uma vez que o organismo pode não tolerar. Experimente durante os treinos.
Para Finalizar
Bebendo com regularidade durante o exercício os atletas previnem lesões, evitam declínios na concentração e no nível de habilidade, previnem aumentos excessivos da frequência cardíaca e na temperatura corporal, aumentando, deste modo, a performance.
A ingestão de fluidos é uma prioridade chave durante os treinos e durante a competição.
Bibliografia: